Meu querido mês de agosto em que não te vi
Eu penso muito em se as árvores sofrem com o calor.
E penso muito em ratos de laboratório, injetados com vírus, com doenças e com curas como em uma pantomima — com caudas e dentinhos, são simpáticos os ratos wistar — de sociedade que sente sensações, mas ninguém sabe se sentimentos.
Desde que eu cheguei aqui, penso muito nos prédios e nos fortes e em como eles assistem a beijos, a ataques de choro, a inícios e a finais. Desde que você chegou, eu comecei a pensar em todas as fissuras na terra, em todos os continentes ancestrais que já estiveram unidos, mas se separaram e agora flutuam ao redor uns dos outros, como se com medo de se tocarem novamente.
Quando o verão chegou, você se foi.
Se, no meu querido mês de agosto, ouvimos o som do vento e das coisas que não existem, eu esperei alguma manifestação de algo que existia ou não para seguir em frente. Você fez parecer que não ia mais embora, eu prometi que nunca mais ia querer lhe ver, mas daí você entrou no avião. E pareceu que jamais havia ido, no entanto. Bastou saber que não estávamos mais a distância caminhável que eu fiz questão de deixar bem claro que o que eu mais queria era estar com você.
Agosto chegou e, com ele, a certeza de que você mentiu. Lá de onde vim, agosto é o mês do desgosto. Aqui, ele é ensolarado, é o mês mais querido. Mesmo que você tenha dado um jeito de compartilhar comigo seus bons-dias e boas-noites com a energia eólico-telepática que achei que tivéssemos desenvolvido. O que para nós é uma pérola, para a ostra é lixo.
O sol se anunciou com a certeza de que você se omitiu e continuou compartilhando a vida com outra pessoa, como sempre. Uma outra pessoa que sequer desconfia que você passou três semanas jurando estar apaixonado, perdidamente!, por uma mulher que acreditou. Que você falou em largar tudo, em cercar essa paixão com muros centenários (milenares?) como aqueles que encontramos. Você disse que não ia voltar, que ia se mudar para as bandas do norte, que nunca mais nos veríamos, que eu apagasse seu número!
E passou — a chegada do verão sendo marcada por um solstício só meu, um verão que chegou só para mim sem que ninguém mais soubesse.
Nesse agosto tão ensolarado eu acabei vendo tanto sorriso, sentindo tanto amor, sentindo a quietude de tanta liberdade… com os amigos de agora e de antes, um continente fraturado voltou a se unir e eu passei a acreditar em um tipo de amor que envolve respeito e não envolve você.
Na sua falta de coragem, eu me encontrei. Muito obrigada.